Esta página informa das novidades de O Bardo na Brêtema, rubrica jornalística e alter ego do compositor Rudesindo Soutelo
No ano 1973, John Blacking, define a música como um produto do comporta-mento dos grupos humanos, “seja formal ou informal: é som humanamente organizado”.
É certo que o modernismo já iniciara um processo de valorização da arte popular mas o dilema de ‘alta’ e ‘baixa’ cultura continuou referindo-se a herança europeia; o resto das culturas foram etiquetadas como ‘exóticas’. Blacking chamou a atenção para essas “inadequadas e enganosas ferramentas conceptuais” porque “o que precisamos saber é que sons e que tipos de comportamento, nas diferentes sociedades, decidiram chamar de «musicais»”.
O etnocentrismo ocidental começou a diluir a sua hegemonia cultural, política e económica, deixando um espaço cada vez maior para as inúmeras sociedades emergentes e culturas diferentes que nos obrigam a repensar a própria organização social e os valores que queremos promover.
Acaso a música religiosa de Mozart não é, como a religião em si, ópio para o povo? Quem faz esta pergunta é um teólogo católico, Professor Emérito na Universidade alemã de Tubinga, Hans Küng, num ensaio intitulado ‘Mozart: Spuren der Transzendenz’ (Mozart: Vestígios da Transcendência) que escreveu com motivo do bicentenário do compositor salzburguês e que está incluído no seu livroMúsica e Religião.
“A música e a religião”, diz Hans Küng, “são fenómenos universais da humanidade, no sentido tanto diacrónico –ao longo da história– como sincrónico –através dos continentes”. E, como tais fenómenos universais, são altamente complexos e com patrões humanos ambivalentes. A religião pode difundir humanidade mas também justificar a inumanidade, assim como a música é utilizada tanto para o bem como para o mal. Hans Küng refere como a música deu expressão a sentimentos nobilíssimos, a belezas indescritíveis e de felicidade sublime.[Ver artigo completo]
A psicologia chegou a algumas conclusões que estão a mudar o conceito de talento musical. John A. Sloboda afirma que “a maioria das nossas respostas à música é aprendida” e que “as respostas emocionais não podem explicar-se simplesmente em termos de condicionamento” pois “a forma e o conteúdo musicais são irrelevantes para o caráter emocional adquirido; só importa o contexto”[1].
A comunicação emocional da música pode ser controversa e, mesmo, mudar radicalmente de um momento para outro numa mesma pessoa. Mas a música tem padrões e estruturas que se relacionam entre si e podem ser mais ou menos identificáveis pelas pessoas. A emoção e o conhecimento são características musicais que adquirem significados relevantes nas suas vidas. Esses significados são aprendidos e a escolha pedagógica tem um papel fundamental no desenvolvimento dos diferentes níveis e capacidades de assimilação.